30.04.2007

A PSICOPATOLOGIA NA PóS-MODERNIDADE, UMA VISãO CRITICA.

Ainda hoje a idéia vigente em relação a saúde mental é baseada numa visão médico-psiquiátrica da psicopatologia que tem sido elevada ao status de única ciência e intitulada por alguns como a única forma eficaz de tratamento dos distúrbios mentais.

Amparadas na neurociência, genética e psicofarmacologia a psiquiatria no geral tende a limitar toda a psicopatologia ao biológico e com isso relegando importância secundaria ou senão desqualificando outras áreas do saber que estudam e tratam de psicopatologia e saúde mental a séculos. Baseando-se em uma visão bio-mecanicista toda a subjetividade humana seria fruto da biologia cerebral anunciando assim a "morte do sujeito" nesse caso a individualidade é negada não existe uma história não existe desejo, o sujeito é "encaixado" em algum grupo de sintomas e passa ser os sintomas, não mais um sujeito. Essa visão abre as portas para crença de que as drogas são a "chave" para o tratamento dos males psíquicos, já que os mesmos são meros efeitos colaterais do mau funcionamento da química do cérebro. Essa visão obviamente não leva em conta nem o desejo nem a liberdade do ser humano em construir-se não existe um espaço de simbolização, o ser humano é comparado a uma máquina que precisa concerto e assim é tratado.

Devido ao alto grau de narcisismo e individualismo da humanidade atual existe a idéia de que o ser humano pode e deve controlar todos os aspectos de si mesmo, do planeta e da natureza, essa visão arrogante o leva a cometer erros por excesso. Uma das necessidades de controle a qualquer custo inclui a rápida supressão da dor, do sofrimento físico ou psíquico, tudo para afirmar o poder do homem diante da vida e da morte. E como tempo é dinheiro não existe a busca por sentido, tempo para a reflexão ou elaboração do que acontece em nosso mundo interior.

E se tratando das drogas e da idéia de que possam "curar" as psicopatologias é preciso levar em conta justamente o aspecto generalista que não leva em consideração as individualidades à história dos sujeitos, com isso a eficácia de tais drogas certamente não é tanta como atualmente se afirma. A idéia de que os sintomas não tem uma história, não tem significados leva a terapêutica por psicofarmacos combater qualquer tipo de sintoma, pois eles são maus. Dessa forma toda perspectiva positiva é perdida, não é levado em conta que os sintomas apontam conflitos que se compreendidos e contextualizados podem impulsionar os sujeitos à mudança e a possibilidade de crescimento.

Junto a isso é interessante pensarmos quanto essa forma de ver e atuar combina perfeitamente com o nosso sistema capitalista selvagem, sabe-se que a indústria farmacêutica é uma das mais poderosas do mundo, logo tem a faca e o queijo na mão para investir e pesquisar o que seja mais lucrativo, com isso a "produção" cientifica se une a um sistema e cria uma suposta realidade onde as drogas são a solução mágica para nossas dores e nossos sofrimentos a droga supostamente pode preencher nossos vazios, no entanto a realidade tem mostrado que o sofrimento psíquico nos seres humanos tem aumentado e cada vez mais surgem novos distúrbios psicológicos.

O homem não é apenas um animal racional, mas sim um animal simbólico que se inventa e re-inventa em seu meio social e cultural, a psicopatologia aparece para os seres humanos como uma possibilidade, parte de um movimento que tem sentidos nas totalidades psíquicas de cada individuo, a simples supressão dos sintomas seja pelas drogas ou mesmo terapia, não significa uma cura, pois os sintomas suprimidos podem se deslocar para outras áreas da psique e acabar voltando a expressar-se de outras formas, é necessário trabalhar nas possíveis causas sejam elas biológicas ou psicológicas.

Vale salientar o quanto às psicopatologias mostram nossos limites, finitudes, nossa falta, ir fundo, investigar analisar confrontar a nós mesmos em busca de re-significação não é um trabalho fácil e a psicoterapia como uma ferramenta de auxilio nesse sentido é muitas vezes diminuída em relação ao uso de psicofarmacos, pois mostra um sentido contrario as soluções fáceis e prima pela escuta e aprofundamento enquanto a os psicofarmacos visam à supressão dos sintomas e do próprio sujeito.

É importante o esclarecimento que não somos contra a psiquiatria ou a sua principal ferramenta terapêutica os psicofarmacos. É constatado que essas áreas tem grande valor e que em determinados casos são muito eficientes em seus tratamentos. O problema é pensar que a visão bio-mecanicista é a UNICA e melhor forma de interpretar o ser humano e é perigoso quando uma só área se auto-proclama a única cientifica e a forma mais eficaz de tratamento dos males psíquicos do ser humano. Pode-se criar assim um domínio terapêutico uma hegemonia imposta pela força do mercado, do poder econômico e do paradigma capitalista desviando assim do objeto primordial de qualquer terapêutica que é o ser humano em sua completude, complexidade e liberdade.