Contando Histórias

26.02.2019

Colaboradora Casilda Inês Lermen é entrevistada do mês, em comemoração aos 50 anos da escola Graciliano Ramos

Em comemoração aos 50 anos da fundação da Escola Estadual Graciliano Ramos – Ensino Fundamental Séries Finais de Santa Helena, que ocorrerá no mês de março de 2019, estamos realizando entrevistas com personagens que trabalharam nesta escola: ex-diretores, professores/funcionários aposentados, como forma de homenageá-los pelos serviços prestados à mencionada instituição de ensino.

Responsável pelas entrevistas, Prof. João Rosa Correia.

Entrevistada: Casilda Inês Lermen – Agente 1

No dia 08 de outubro de 2018 entrevistei Casilda Inês Lermen em sua residência, localizada à Rua Cedro, 810, do conjunto habitacional Bach, em Santa Helena. Casilda nasceu no dia 15 de setembro de 1946 na localidade de Dona Francisca/RS. Seus pais: Guilherme Busanello e Eletícia Maria Busanello, de origem italiana. Nesta localidade trabalhavam na agricultura na condição de agregados numa fazenda do citado município. Depois de alguns anos que ali residiam, a família migrou para Crissiumal, também no RS onde tinham adquirido uma área rural e assim continuaram exercendo a profissão de agricultores.

A família de Casilda era constituída de 8 irmãos, destes, 7 mulheres e 1 homem. Quando criança, Casilda iniciou os estudos aos dez anos de idade e conseguiu concluir o quarto ano primário aos doze anos (hoje corresponde ao ensino fundamental séries iniciais). De acordo com Casilda, esta aceleração de estudos foi ofertada pela escola motivada pela dedicação e empenho na aprendizagem que demonstrava durante o transcorrer do ano letivo escolar.

Era normal naquela época, ao término de estudo do ensino fundamental (antigo primário 1º a 4º série), as filhas além de auxiliarem as mães nas atividades do lar, colaboravam com os pais nos trabalhos agrícolas, quer seja conduzindo as juntas de bois para o preparo do solo para o plantio de lavouras, bem como, limpando os inços dos cereais, ora com enxada e/ou através de tração animal.

Casilda casou com Valdemar Lermen em Crissiumal no ano de 1966. Desta união tiveram seis filhos: Lauro e Cleuza nasceram no RS; Judite, Valter, Rosângela e Carla nasceram depois, já no município de Santa Helena. Casada e vivendo em Crissiumal, continuou trabalhando numa pequena propriedade rural da própria família. Em 1970 almejando uma vida melhor, migraram para São Vicente Chico, interior de Santa Helena onde conseguiram adquirir uma posse de terra e ali fixaram residência (Lembrando que esta região está submersa desde 1982 pelas águas do Lago de Itaipu).

Diante das dificuldades que enfrentavam trabalhando na agricultura em São Vicente Chico, trocaram a posse de terra por dois lotes urbanos no Bairro Vila Rica/SH. No entanto, com a decisão de escriturar os terrenos, souberam que estes imóveis estavam hipotecados junto à Imobiliária Madalozzo, por falta de pagamento do proprietário anterior. Por conta desta situação, estas propriedades urbanas não lhes pertenciam de forma legal. No entanto, necessitando de um lugar para morar, propuseram à própria imobiliária a compra de um desses terrenos e assim adquiriram legalmente este imóvel.

Assim que fixou residência na cidade de Santa Helena, Casilda conseguiu trabalho de serviços gerais na Loja Tupinambá (hoje Loja Tupi) e na própria residência do proprietário da referida empresa, Alexandre Martins Portelinha, onde trabalhou durante quatro anos e meio. Na sequência trabalhou durante um ano na mesma função na casa da Sra. Maria Harter (Oficina São Miguel). Também prestou serviço de diarista em diversas residências de santa-helenenses e de boia-fria* a uma empresa de limpeza das árvores que foram plantadas às margens do Lago de Itaipu.

(*Obs. Boia-fria, era o trabalhador que levava a marmita de alimentos pronta ao deslocar para o trabalho ainda de madrugada. No momento do almoço (normalmente 10 horas da manhã) esquentava-a sob uma trempe improvisada no local que trabalhava antes de almoçar. )

No ano de 1986 prestou concurso estadual para o setor de serviços gerais (hoje a nomenclatura é Agente 1). Aprovada, passou a trabalhar na Escola Estadual Graciliano Ramos. Comentou também que no ano de 1990 seu casamento foi desfeito. Com esta separação, o casal vendeu a residência, único bem material que possuíam e o dinheiro que lhes coube os impossibilitou adquirir outra moradia.

Em razão disso, Casilda foi obrigada a alugar uma casa para abrigar os filhos, pois, ficou sob sua responsabilidade a guarda destes, que por sinal ainda eram menores de idade quando se separaram. Foi um período muito díficil, porque segundo ela, seu ex-marido foi embora para Santa Catarina e não os auxiliava nos gastos financeiros para com a família. Complicava ainda mais, porque eram seis filhos menores de idade que tinham de serem providos com roupas, remédios, alimentos, entre outras despesas, e o salário que recebia mensalmente pelo serviço que prestava ficava aquém das despesas contraídas no decorrer do mês. Foram desafios que a vida lhes apresentou, mas graças à força de vontade e persistência conseguiu superar os obstáculos de sua existência, por isso tem convicção de dever cumprido, disse Casilda.

Sobre a Escola Estadual Graciliano Ramos, descreveu que esta instituição de ensino teve um papel relevante na superação dos problemas que enfrentava, porque sentia muito bem no ambiente escolar. Relatou que ao estar afastada do trabalho por estar enferma, procurava retornar à escola o mais breve possível, pois, o serviço lhes proporcionava a sensação de abreviar a melhora de sua saúde. No seu entendimento, isto era decorrente da sensação agradável que sentia ao observar as crianças/adolescentes alimentando dos lanches que ela e demais colegas de profissão preparavam e serviam diariamente na escola.

Participou também de um projeto de uma horta no pátio da escola, que tinha como finalidade produzir diversas verduras com o propósito de reforçar a alimentação que o Estado oferecia aos educandos no decorrer do ano letivo (lembra Casilda que por muitos anos ofereceram hortaliças aos estudantes extraídas da horta deste projeto).

Para finalizar a entrevista, comentou sobre o plano de carreira do funcionalismo público estadual do Paraná, ao dizer que por intermédio deste, conseguiu avançar na profissão, tanto no aspecto cultural (estudou inter-relações sociais e aprofundou os conhecimentos de sua profissão - Agente 1), quanto no econômico (melhoria salarial). Segundo Casilda, foram avanços importantes, porque que lhe oportunizaram abrir os horizontes e com isso, uma vida de melhor qualidade.

Mensagem:

“O meu desejo é que todos os alunos dediquem o máximo nos estudos para que consigam ótima aprendizagem, só assim o nosso Brasil irá melhorar em todos os sentidos. E que sejam bem alimentados, porque só através de uma boa alimentação que o estudante aprende e assim possa chegar a uma boa educação”.  Casilda I. Lermen


















































João Rosa Correia