Contando Histórias

17.12.2015

Entrevista com Rose Calsing, pioneira do município

Na quarta-feira, 28 de outubro de 2015, entrevistei a Sra. Rose Calsing em sua residência localizada no cruzamento da Rua Amazonas com a Rua Pará, nº 345 no bairro São Luiz.

Rose iniciou relatando aspectos da história dos seus pais, Olga Biesdorf e José Biesdorf (in-memória). Disse que seus pais uniram-se em matrimônio no dia 28 de julho de 1937. Ambos de descendência alemã. Quando casaram residiam na cidade de Santa Cruz do Sul, RS. Desta união tiveram 05 filhas e 04 filhos. Dentre estes, dois nasceram no Rio Grande do Sul: Valy Biesdorf e Eldo Biesdorf; Valter Biesdorf e Elma Biesdorf em Chapecó-SC; Dinaldo Biesdorf, Elzira Biesdorf, Tereza Biesdorf e Júlio Biesdorf em Santa Helena Velha, Paraná. Rose nasceu em Laranjeiras (Sudoeste do Paraná). Neste município José Biesdorf e família residiu por alguns meses. No Rio Grande do Sul José Biesdorf trabalhou na profissão de professor da língua alemã em escolas do município de Santa Cruz do Sul. Seguidor da fé Católica, colaborava com os responsáveis da Igreja nos cultos e missas acompanhando os cânticos por meio de notas musicais e integrava o coral da Igreja.

Na década de 1940, José Biesdorf passou a residir na cidade de Chapecó onde continuou exercendo a mesma profissão do RS. Durante o período que residiu nesta cidade, José Biesdorf conheceu Oscar Muxfelt, fato que mudaria totalmente os rumos de sua história. Oscar Muxfelt possuía uma madeireira em Santa Helena Velha e convidou José Biesdorf para ser o motorista de caminhão toreiro da madeireira (caminhão toreiro- meio de transporte adaptado para transportar madeiras brutas – “toras” - das matas até às serrarias com a finalidade de transformá-las em madeiras beneficiadas). Analisou a proposta oferecida pelo empresário Oscar Muxfelt e aceitou o desafio. Assim José e família transfere residência para o oeste do Paraná.

A viagem entre Chapecó e Foz do Iguaçu teve duração de 55 dias. A demora desta viagem, foi em razão do meio de transporte que usaram, um carroção puxado por seis animais, relatava os pais de Rose aos familiares. De Foz do Iguaçu a Santa Helena Velha vieram de navio pelo Rio Paraná. Chegaram em Santa Helena Velha no ano de 1944. José Biesdorf e família foram acolhidos pela família de Ângelo Cattani que residia naquela localidade desde 1942. Confidenciou Rose Calsing que seu pai José Biesdorf ao nascer o quinto filho do casal, registrou com o nome de Ângelo Biesdorf como forma de agradecer Ângelo Cattani e família pela acolhida que tiveram desta gente.

Rose comentou também sobre a família Christófolli que passou residir em Santa Helena Velha no ano de 1945 e que sua família tornaram amigos. Inclusive uma integrante da família Christófolli, Maria Úrsula Christófolli de Oliveira, atualmente empresária e escritora de Foz do Iguaçu, quando adolescente auxiliou Olga Biesdorf nos afazeres domésticos em razão da gravidez do sexto filho do casal Biesdorf. Este auxílio teve o consentimento dos pais da jovem Maria Úrsula, por entenderem que às vezes José Biesdorf se obrigava ausentar até três meses de casa e os cinco filhos do casal Biesdorf eram ainda muito pequenos para assumir todos os compromissos de casa.

As ausências de José Biesdorf acontecia porque na medida que ficava mais longe extrair as toras das matas e transportá-las à serraria em que trabalhava era um enorme e constante desafio, pois necessitava abrir estradas, vencer atoleiros, construir pontes ou fazer os devidos reparos nas existentes, o que dificultava o retorno com mais frequência para a casa da família. Neste contexto de lembranças do passado, a escritora Maria Úrsula escreveu em seu livro: Dona Maria, por Maria, uma vida de esperança nas páginas 4445 os seguintes fatos sobre a família Biesdorf:

“Em Santa Helena, um vizinho chamado José Biesdorf pediu ao papai se eu poderia trabalhar de empregada para a família dele por um tempo. Seu José trabalhava no mato, era obrageiro em um local de onde se extraía madeira manualmente, distante 40 quilômetros da casa dele. Precisava de alguém que fizesse companhia à esposa, dona Olga, que estava grávida de sete meses. De imediato, a resposta foi negativa: - “Não, para ser empregada não, mas se é para ajudar, ela pode ir o tempo que você precisar”. Mais uma vez tive que deixar minha família. Na casa dos Biesdorf, todas as manhãs, eu levantava cedo para ir à fonte, porque não havia água em torneiras. Buscávamos água para lavar a louça, para cozinhar, para limpar o chão ... Chegar à fonte só era possível por uma estradinha que ficava em uma descida bem grande e cheia de mato. Depois, eu subia tudo aquilo com baldes cheios, pendurados em um suporte de madeira que ficava em um dos ombros. [...] Quando fazia um mês ou dois que eu estava com os Biesdorf, uma das meninas Valy Ilse, teve uma dor de dente intensa e, como lá não havia dentista, o senhor Biesdorf recomendou: - “Maria, você vai a Foz do Iguaçu com a Valy, levando uma carta de recomendações para uma família. Você vai e fica à vontade, como se fosse de casa. Eu vou escrever uma carta dizendo que você não é minha empregada, mas sim, uma acompanhante para minha filha. A viagem foi em 1947. Demorava-se um dia para chegar à fronteira. Nós viajamos com o navio “Cruz de Malta” para ficar oito dias na cidade. [...] Ao todo, acabei ficando quase três meses com os Biesdorf, fazendo companhia à dona Olga. A criança nasceu no dia 25 de agosto de 1947, e eu ainda fiquei por mais alguns dias, até que a dieta dela terminasse. A menina ganhou o nome de Elzira Maria Biesdorf e foi minha primeira afilhada. Lembro de José Biesdorf ter agradecido ao meu pai com uma boa gratificação. O dinheiro foi usado para ajudar a pagar as nossas terras”.

Este depoimento de Maria Úrsula demonstra o quanto determinados fatos na vida de uma pessoa jamais é esquecido mesmo ocorrido a décadas, principalmente quando o acontecimento foi precedido de uma amizade profícua e sincera. Passados muitos anos após o relato acima, a entrevistada comentou também em seu livro na página 154 outro fato sobre Olga Biesdorf, vejamos o assunto:

“Fiquei muito triste quando soube que dona Olga Biesdorf – mulher a quem ajudei em Santa Helena – estava doente e foi internada no hospital Santa Casa Monsenhor Guilherme, em Foz do Iguaçu. Aquilo me partia o coração, porque ela tinha sido uma das pessoas que mais me ensinaram na vida, na época em que fiquei na casa dela. Fui ao hospital para visita-la. Ela olhou bem para o médico, o doutor Sílvio Cury, e falou: - Veja só, doutor, essa moça foi minha empregada e, hoje, eu é que deveria ser empregada dela!” Quanto amor tive por essa mulher! Essa frase, foi, para mim, uma demonstração de admiração, de quanto ela tinha orgulho pelo meu crescimento. Dona Olga recuperou-se logo e eu nunca mais esqueci do que ela disse naquele momento”.

Retornando à história, assim que José Biesdorf acomodou os familiares na nova morada, (Santa Helena Velha) este deu o início aos trabalhos na madeireira de Oscar Muxfelt como havia combinado.

Vale enfatizar sobre as funções de José Biesdorf, extrair as toras das matas através de um caminhão com o auxílio de alguns ajudantes contratados pelo próprio dono da madeireira e ainda ficava sob sua responsabilidade realizar os pagamentos aos funcionários que trabalhavam na madeireira de Oscar. A maioria dos trabalhadores da madeireira eram paraguaios, pelo tratamento respeitoso que José Biesdorf dispensava a todos eles, estes tinham muito apreço e consideração pelo “chefe”, tanto que os chamavam carinhosamente de patrõnzito, recorda Rose.

Enquanto José Biesdorf trabalhava no campo, a esposa Olga Biesdorf cuidava dos filhos e dos serviços do lar. Olga, por ser de origem alemã e ter convivido no Rio Grande do Sul e Santa Catarina com pessoas de mesma origem, comunicavam-se quase somente na língua materna. Em razão disso, ao chegar em Santa Helena Velha, Olga Biesdorf deparou com uma situação adversa no que diz respeito à língua. Acostumada expressar somente em alemão encontrou enorme dificuldade para comunicar com os agricultores (as) que aqui moravam, pois estes, mesmo sendo maioria de origem italiana e alemã, no entanto, estavam acostumados a expressar cotidianamente o português.  Com isso, Olga sentia como um peixe fora da lagoa.

Segundo Rose, Olga encontrava dificuldade para pedir um copo de água na língua portuguesa, imaginem o que sentia esta mulher, afirma Rose. No entanto, segundo Rose, José Biesdorf não encontrou maiores problemas quanto a língua, por ser uma pessoa que estava em contato permanente com pessoas que expressavam o português tanto no RS, SC e oeste do Paraná, isto facilitou sua comunicação, seja na língua alemã e portuguesa.

Passados seis anos que José Biesdorf estava residindo em Santa Helena Velha (1950) e trabalhando na madeireira, seu patrão Oscar Muxfelt adquiriu outra serraria na localidade de Sol de Maio, fez com que José Biesdorf transferisse residência e continuasse prestando serviço ao proprietário da madeireira. Em Sol de Maio, José Biesdorf, além dos trabalhos da madeireira, exerceu a função de Subdelegado, relembra Rose. Disse também que entre os anos de 1953 e 1954 aquela localidade foi alvo de vários ataques de bandidos/assaltantes que entravam na casa dos colonos e roubavam os pertences dos moradores, recorda Rose. Inclusive o próprio armazém de secos e molhados pertencente a Companhia Colonizadora Espéria que ficava no povoado de Sol de Maio e tinha como finalidade atender os funcionários, agricultores e outros trabalhadores, também foi assaltado onde levaram utensílios em geral com destaque aos alimentos que havia no interior daquele comércio.

Segundo a entrevistada, os colonos e demais trabalhadores não se abateram com as investidas dos marginais e passaram a preparar-se com armamentos e até enfrentaram os infortunados delinquentes que agiam com grande terror. Para administrar os negócios do armazém, a Companhia Colonizadora Espéria contratou Osvaldo Biesdorf (irmão de José Biesdorf).

Obs. A Companhia de Colonização Espéria era proprietária de uma gleba de terras que ficava na região de São Vicente Grande e São Vicente Chico. Essas áreas de terras estava sob o domínio administrativo de Foz do Iguaçu até o ano de 1962. Neste ano Santa Helena desligou-se administrativamente daquele município e passou a ser distrito/administrativo de Medianeira. Porém, com a emancipação política/administrativa de Santa Helena (26/maio/1967), os territórios de São Vicente Grande e São Vicente Chico passou pertencer a Santa Helena. São Miguel do Iguaçu ao conseguir também sua independência/política/administrativa de Foz do Iguaçu, o território que compunha na época Sol de Maio ficou integrado a este município. É importante ressaltar que com a formação do Lago de Itaipu em 1982, extensas áreas de terras dessas três localidades foram inundadas pelo referido lago.

Ainda segundo Rose, no ano de 1956 Oscar almejando expandir os negócios madeireiros, adquiriu um ponto comercial de compra e venda de madeiras na região do Porto Belo em Foz do Iguaçu. Mais uma vez José Biesdorf e família seguiram os “passos” de Oscar na nova atividade empresarial em Foz do Iguaçu onde trabalhou até o ano de 1959. As madeiras adquiridas pela empresa de Oscar eram exportadas principalmente para as cidades argentinas de Buenos Aires, Corrientes, Mendoza entre outras e Assunção Paraguai.

No ano de 1960, José Biesdorf deixou de trabalhar com Oscar, retornou à Santa Helena e passou a residir na localidade de São Vicente Grande. A partir desse momento, José tornou-se vendedor de terras (corretor) da Companhia Espéria. O acordo entre José Biesdorf e a Colonizadora ficou assim acertado, ao vender uma Colônia de Terra (uma colônia equivalia a 10 alqueires de terras) o corretor recebia de imediato outra colônia de terra como forma de pagamento. José Biesdorf foi beneficiado com este trabalho, pois na década de 1960, colonos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina atraídos pelas intensas propagandas sobre as qualidades das terras do oeste do Paraná, deslocavam em grande número para esta região.

Os colonos ao chegarem em São Vicente Grande encontravam o corretor José Biesdorf, isto representava certa “tranquilidade” no momento de comprar áreas de terras, pois tratava de uma pessoa oriunda da mesma região dos agricultores que aqui aportavam. Porém, é preciso destacar outros aspectos que influenciaram os colonos sulistas a negociar terras na região: os baixos preços das propriedades, a fertilidade do solo, a topografia plana, florestas com diversas madeiras de lei e água em abundância, aliado a facilidade no pagamento das terras.

Com as vendas das terras da Companhia Espéria aos colonos, o corretor José Biesdorf conseguiu adquirir muitos alqueires de terras da empresa. Na medida em que aumentava as áreas de terras de José, ele próprio resolveu vender partes das suas propriedades aos colonos, disse Rose. Com certo ressentimento, Rose comentou também que naquela época as filhas não recebiam áreas de terras dos pais, porque a moça ao casar, o esposo é quem deveria possuir uma propriedade agrícola. Em razão desse aspecto cultural do período, os pais ficavam sem a obrigação de doar terras às filhas. Doavam a elas uma máquina de costura e foi o que recebeu Rose Biesdorf de seus pais quando se casou.

No dizer de Rose, José Biesdorf, por ser uma pessoa comunicativa e conhecedor dos anseios e necessidades dos colonos/agricultores de Santa Helena, estava sempre pronto para socorrê-los ao procurá-lo. Incontáveis vezes José transportou de Jeep da firma Espéria, pessoas doentes para ser tratados em Foz do Iguaçu. Ressaltou Rose, quando o paciente não dispunha de dinheiro para bancar o tratamento, seu pai pagava de seu próprio bolso os custos hospitalares da pessoa que havia encaminhado ao hospital.

Rose acrescentou ao dizer que José Biesdorf possuía outras qualidades, como exemplo, conseguia reunir grupos de pessoas em forma de mutirão para abrir estradas e/ou concertá-las. Neste caso sempre voltados ao interesse da coletividade. Outras realizações de José Biesdorf em prol da comunidade, como não havia Igreja Católica em São Vicente Grande, articulou e efetivou a construção de um templo religioso no qual cedeu terras e madeiras serradas. Além das causas religiosas, José Biesdorf preocupava com o saber das crianças dos agricultores, por isso incentivou e contribuiu na instalação de uma escola nas imediações da Igreja da localidade.

Estas construções de interesses sociais tiveram o auxílio da comunidade por meio de mutirão, liderada por José Biesdorf, comentou Rose. Além de contribuir nas construções da Igreja, fez parte como ministro eucarístico daquela organização religiosa. Fez parte da administração da escola, no qual estava sob sua responsabilidade contratar professores (as) que iriam lecionar aos alunos de São Vicente Grande. Auxiliava também os educadores (as) nas discussões do processo pedagógico que seria aplicado aos estudantes, relembra Rose.

A pioneira fez questão de comentar que antes da existência da Igreja Católica em São Vicente Grande, os cultos eram preparados e ministrados pelo seu pai na residência da família. As missas aconteciam a cada seis meses, pela dificuldade de um padre deslocar de Foz do Iguaçu até São Vicente Chico Grande, que normalmente se fazia de navio ou barco. Acrescentou Rose, ao falecer uma pessoa da comunidade, na falta de um padre para fazer as orações de recomendação do corpo, normalmente era José Biesdorf quem assumia mais esta cooperação social. E se necessário coordenava os trâmites burocráticos (papéis) para o enterro do falecido (a), enalteceu Rose.

Na medida que as terras da Companhia Espéria foram sendo vendidas aos colonos/agricultores, os negócios de corretagem diminuíram. José Biesdorf resolveu abrir um comércio de secos e molhados em São Vicente Grande em parceria com o genro Vitor Ferri. Nesta atividade comercial permaneceu trabalhando por quinze anos, mas conciliava com os trabalhos na agricultura tendo como auxiliares os próprios filhos, afirma Rose. E na medida que os filhos tornavam-se adultos, José Biesdorf doava a cada filho sete alqueires de suas propriedades agrícolas. José Biesdorf por ser uma pessoa comunicativa, senso coletivo, habilidade em liderar pessoas, somadas às várias atividades econômicas que desempenhou no início da colonização de Santa Helena, permitiram a ele manter constantes contatos com a população de São Vicente Grande, São Vicente Chico, Vila Celeste e Santa Helena Velha e também com as pessoas das demais comunidades que formaria o município de Santa Helena e por meio dos encontros possibilitou-o obter uma visão mais ampla das necessidades da população santa-helenense.

Diante disso, José passou a entender que para alavancar o desenvolvimento sócio/econômico de Santa Helena com mais precisão e rapidez, desde que houvesse na câmara de vereadores de Medianeira representantes santa-helenenses. Isto porque no período de 1962 a 1967, Santa Helena esteve integrada àquele município na condição de distrito administrativo. José Biesdorf e outras lideranças encampam esse desejo e recebem o apoio da população santa-helenense.

Nas eleições de 1961, candidataram a vereadores pelo distrito de Santa Helena: José Biesdorf, Normindo Fockink e Arno Nagel. José Biesdorf e Normindo Fockink elegeram-se vereadores, Arno Nagel ficou na suplência de vereadores. Assumiram a função em 1962.

Entre os mais diversos projetos de lei apresentados pelos vereadores santa-helenenses na câmara de vereadores de Medianeira de interesses de Santa Helena, o de mais destaque foi o que permitiu transformar o distrito em município, que veio ocorrer no dia 26 de maio de 1967. A partir de então, os munícipes passam a ter o direito de eleger nove santa-helenenses que comporia a câmara de vereadores e o prefeito municipal. As eleições ocorrem no ano de 1968 e os vencedores assumiriam os mandatos no ano seguinte (1969).

José Biesdorf candidatou-se a vereador e saiu mais uma vez vitorioso nesta disputa política/eleitoral. Esta conquista, permitiu fazer parte da primeira câmara de vereadores de Santa Helena e além disso, foi eleito pelos seus pares para ocupar por dois anos a presidência do legislativo municipal, biênio 1971/1972. Rose destacou também o seguinte aspecto sobre o início da administração pública de Santa Helena, ao dizer que o prefeito Arnaldo Weisheimer ao iniciar seu mandato político/administrativo no ano de 1969 frente à prefeitura municipal, não dispunha de finanças para atender de imediato os anseios da população.

Sabendo das dificuldades que enfrentariam, José Biesdorf chegou a vender uma colônia de terra (10 alqueires de terras) e comprou uma Patrola e doou à Prefeitura para que o prefeito pudesse agilizar os serviços da municipalidade, no tocante, abrir estradas e melhorar as existentes. Depois de enfrentar e vencer diversos desafios no início da colonização de Santa Helena, surge a partir de meados da década de 1970 outra situação que viria ser um enorme problema não só à família Biesdorf, mas a todos os lindeiros do Rio Paraná. Tem início os embates entre a Itaipu e agricultores sobre a desapropriação das terras que margeavam o Rio Paraná para a formação do Lago de Itaipu.

As propriedades de José Biesdorf ficavam entre São Vicente Grande e São Vicente Chico, exatamente nos limites do futuro Lago de Itaipu. Portanto, foi mais um agricultor indenizado pela Itaipu no ano de 1982. Assim que recebeu os valores da indenização de suas terras resolveu comprar uma casa em Vila Celeste fixando ai residência. Comentou Rose que seu pai acreditava que jamais aquela quantia de dinheiro que recebeu acabaria, por isso deixou aplicado no banco. Um ano após o recebimento da indenização de Itaipu, o dinheiro que tinha aplicado no banco não era mais suficiente para comprar a metade das terras que tinha antes do processo indenizatório. O motivo principal está relacionado com a rápida elevação dos preços das terras da região oeste do PR, pois inúmeros agricultores desapropriados de Itaipu tentavam desesperadamente conseguir comprar propriedades agrícolas nesta região para aplicar o dinheiro em imóvel rural, e assim manter-se na agricultura.

Outro fato que complicou um pouco mais as finanças de José Biesdorf, é que ele foi obrigado a gastar somas de dinheiro em hospitais de Santa Helena e região para tratar de sua saúde debilitada. Mesmo com os tratamentos médicos, José Biesdorf veio falecer no dia 06 de janeiro de 1983 em Vila Celeste e no cemitério daquele distrito seu corpo foi sepultado. Sua esposa Olga faleceu no dia 01 de janeiro de 2004 e estava residindo na sede do município. Os familiares resolveram sepultar Olga Biesdorf no cemitério municipal de Santa Helena, porém para deixar o casal no mesmo espaço, retiraram os restos mortais de José Biesdorf do cemitério de Vila Celeste e assim ambos, foram sepultados na mesma cova.

A entrevistada Rose relatou também aspectos de sua vida, disse que nasceu no dia 24 de março de 1949 em Laranjeiras do Sul (Oeste do PR). Neste município seus pais residiram por poucos meses. Em seguida, retornam à Santa Helena Velha. Rose contou, quando era criança frequentou quatro anos no Colégio de Freira de Foz do Iguaçu onde completou a quarta série (antigo primário).  Ao término deste nível de ensino, regressa à casa dos pais em São Vicente Grande no qual passou auxiliar nos afazeres do lar e nos trabalhos rurais. Entre 1974 à 1982 exerceu a profissão de professora primária em São Vicente Grande e Vila Celeste.

A partir de 1983 afastou da educação por não possuir formação específica para atuar no magistério. Esta situação aconteceu porque os órgãos responsáveis pela educação a nível estadual e federal passaram a exigir dos prefeitos o cumprimento da legislação que obrigava o educador (a) a habilitar-se para continuar lecionando a nível primário. Propuseram aos educadores que encontravam nesta situação o seguinte, estes precisaria frequentar estudo de equivalência do magistério, conhecido pelo nome de Logus se quisesse continuar a exercer a profissão de professor (a) “primário”. Diante desta situação, e da pouca valorização salarial que os prefeitos concediam aos professores que lecionava para aquele nível de ensino, Rose analisou que não compensaria o sacrifício, em razão disso deixou de trabalhar com a educação. Mas disse que se arrependeu de tal decisão, pois com o passar dos anos as condições dos profissionais da educação foi melhorando em diversos aspectos.

Rose relatou que as professoras (es) que fizeram o Logus e continuaram trabalhando no magistério, todos (as) estão aposentados (as) e ela até hoje não conseguiu aposentar-se.

Nesta altura de sua vida encontrava casada com Décio Atanásio Calsing. Uniram em matrimônio no dia 21 de maio de 1971 em Santa Helena. Rose fez questão de descrever prévio histórico de seu esposo. Disse que ele nasceu no município de Montenegro RS no dia 10 de novembro de 1947 e que no Rio Grande do Sul a família do marido trabalhavam na agricultura. Os familiares de Décio vieram para Vila Celeste no ano de 1967 onde adquiriram 05 terrenos urbanos naquela localidade e meia colônia de terras (= 5 alqueires de terras) na região de São Vicente Grande, dando continuidade na profissão de agricultores em Santa Helena.

Na década de 1970, Décio abre um comércio no atual distrito de Vila Celeste. O empreendimento comercial estava indo bem, haja vista que Vila Celeste tornava a cada dia um vilarejo forte, pujante, em razão de suas terras férteis e muito plana. Fato que atraia levas de pessoas ao “vilarejo”. Após deixar de lecionar (relatado acima), Rose passou a trabalhar com o esposo no comércio.

No entanto, em meados da década de 1970 tem início um fato que iria impactar demasiadamente o desenvolvimento do vilarejo de Vila Celeste. Iniciou-se a discussão entre os responsáveis de Itaipu e agricultores que seriam atingidos pelo reservatório da referida empresa binacional, sobre o processo de indenização monetária das terras para a formação do Lago de Itaipu. Obs. A formação do Lago de Itaipu ocorreu em outubro de 1982. Em meio a acirradas discussões que aconteceram defronte do escritório da Itaipu em Santa Helena, bem como de Foz do Iguaçu sobre os valores a serem pagos aos agricultores, estes sabiam que deveriam deixar suas terras dentro do prazo estabelecido pela empresa, até porque o traçado onde passaria o futuro Lago estava pronto e sem a mínima condição de ser alterado. Vila Celeste e região adjacentes por estar bem próximas ao outrora Rio Paraná (famoso Paranazão), perdem enormes áreas de terras, com isso parcela significativa da população que ali viviam obrigam-se abandonar a localidade.

A população de migrantes forçados deslocam para outras regiões do Paraná, de outros Estados da Federação e mesmo de outros países. Aqueles que tinham investido no comércio em Vila Celeste naquele período, observavam o declínio acentuado e rápido de seus negócios. Sobraram dívidas nos bancos e sem condições financeiras para saldar os compromissos econômicos, veio a falência e em seu rastro, tristeza, desespero e desilusão. Foi exatamente o que aconteceu com a família de Décio Calsing.

Diante desta circunstância transferiram residência para a sede do município no ano de 1988 no qual fixaram moradia na Rua Pará com o cruzamento da Rua Amazonas. Em Santa Helena, Décio passou a trabalhar de servente de pedreiro. Inesperadamente ocorreu o falecimento da filha caçula do casal, Danusa Calsing. Mais uma vez o sofrimento fez presente em suas existências. Este doloroso acontecimento fez com que pensassem deixar Santa Helena.

Ao receberem uma proposta de trabalho em Foz do Iguaçu alugaram a residência e para lá mudaram. Décio e Rose foram trabalhar no Clube da Varig na condição de coordenadores dos serviços de limpeza e jardinagem do pátio da referida empresa e lá ficaram trabalhando por quatro anos. Somando os períodos de trabalho na agricultura, comércio e da empresa Varig, Décio conseguiu aposentar em 2003 e retornam a Santa Helena onde passam a residir na casa que tinham deixado alugada. No entanto, Décio ainda continua prestando serviço de ajudante de pedreiro em Santa Helena como meio de reforçar o orçamento financeiro da família. Quanto Rose Calsing, por não conseguir documentos que comprove ao INSS tempo suficiente para obter sua aposentadoria, está sem receber o referido benefício social. Mesmo assim a vida continua, rematou a conversa o casal Calsing.

Mensagem do casal Calsing.

A vida é constituída de lutas constantes. Umas mais doloridas outras menos, mas com muita fé na força que existe em cada um de nós, os desafios são superados. Também dou graças a Deus, por ter nascido de pais batalhadores que muito honraram as suas vidas por onde passaram. Aqui no município de Santa Helena, lutaram incansavelmente para o progresso desta coletividade.

Mensagem do Prof. João Rosa Correia.

Agradeço por esta entrevista. Muito se aprende nestes contatos e com isso permite às gerações do presente e do futuro conhecer aspectos importantes da História de nossa sociedade. Um povo sem memória de sua historicidade é comparado com a folha ao sabor do vento, para onde ele o empurra, ela desloca. Portanto, registrar os fatos históricos que vivenciou um povo, além de valorizar as personagens do passado, estamos garantindo os ensinamentos que deixaram.



































































João Rosa Correia