Conhecendo a Europa

24.04.2013

O CHÂTEAU DE VERSAILLES - PARTE II

Na morte de Luís XIV em 1715, a corte deixa Versalhes para Vincennes e em seguida Paris. Foi Luís XV que, em Junho de 1722, com doze anos, pediu para voltar na residência de seu bisavô. O palácio sofreu um purgatório de sete anos. Este parêntese não provocou o desaparecimento da mecânica de corte que se tornou num atributo da realeza, e Versalhes vive por ela. Até 1789, esta impõe-se a Luís XV em seguida a Luís XVI (sem dúvida, prisioneiros dessa herança pesada a carregar) que devem reproduzir os mesmos gestos nos mesmos locais que o seu antepassado. Embora a etiqueta seja considerada cada vez mais condicionante, dispendiosa, antiquada, nenhuma reforma pode ser feita sem mexer em demasiados privilégios. Versalhes continua a funcionar como no tempo do Grande Rei, pelo menos em aparência. Ao invés de Luís XVI que não é Rei construtor, Luís XV finaliza a obra do seu bisavô com o mesmo espírito de magnificência pela decoração do salão de Hércules, a do lago de Netuno e da Ópera.


O salão de Hércules foi construído para servir de quadro ao Almoço em casa de Simão o Fariseu de Véronèse oferecido pela República de Veneza a Luís XIV em 1664 e em seu teto realizado por François Lemoyne respresentando A Apoteose de Hércules.


(lago de Netuno)


(a sala de Ópera estava fechada neste dia, mas ela era como nesta pintura)


(e nesta maquete)

Contudo, ao lado desta vista oficial, estes soberanos reservam-se uma vida simples particular que lhes poupa as condicionantes da etiqueta. A moda é a elegância e a intimidade. Aconchegados no âmago do palácio, pequenos apartamentos e gabinetes interiores mutliplicam-se, acolhendo uma sociedade muito restrita de familiares em decorações sempre adaptadas ao gosto da época. Aqui, exprimi-se em tudo o maior requinte nos apartamentos, na conservação, na música, na gastronomia... Reis e Rainhas desaparecem com frequência nos seus apartamentos privados ou em Trianon. Luís XV e ainda mais Luís XVI e Maria Antonieta adaptam essa atitude sem prever as consequências. Os cortesões cansam-se: “Vir a Versalhes para quê¿” Nas vésperas da Revolução, a corte está frequentemente abandonada, a nobreza afastou-se do Rei.








(Gabinete do Conselho – o antigo gabinete de Luís XIV e o seu gabinete das Perucas foram reunidos em 1755 e constituíram a atual sala do Conselho onde se veem nos revestimentos de madeira desenhados por Gabriel e esculpidos por Rousseau medalhões que lembram o trabalho do Rei.)


(O Conselho dos Ministros reunia-se aqui domingo e quarta-feira e, as vezes, na segunda-feira. O Conselhos das Finanças reunia-se às terças e sábados. Certos Conselhos extraordinários como os dos despachos ocorriam uma ou duas vezes por mês. O Rei sentava-se em uma poltrona, os ministros em assentos dobradiços. No reinado de Luís XIV como no dos seus sucessores, o Rei reunia a família para certas cerimônias, como a assinatura dos registros durante os casamentos dos Príncipes. É aqui também que Luís XIV aceitou em 1700 a coroa da Espanha para o seu neto, o Duque de Anjou cujo descendente atual é o Rei Juan Carlos.)


(A antecâmara do Grande Couvert – na época da Rainha Maria Teresa, esta sala era a sala dos Guardas da Rainha, o teto adornado de temas guerreiros provam-no. Os visitantes que tinham obtido uma audiência da Rainha deviam esperar aqui antes de entrarem no salão dos Nobres ou no quarto)


(esta sala servia também para concertos e representações teatrais. O seu nome vem do cerimonial a que submetiam os soberanos que consistia em tomarem certas refeições publicamente)

(uma das mais notáveis foi a que Luís XV e Maria Leckzinska tomaram aqui em companhia do pequeno Mozart em 1 de Janeiro de 1764)


(entre os quadros pendurados na antecâmera do “Grande Couvert” o mais famoso é a grande pintura de Élisabeth Vigée-Lebrun exposta no salão de 1787. Vê-se aí Maria Antonieta com seus 03 filhos: Madame Royale que sobreviveu à Revoluçao, o Duque de Normandia, futuro Luís XVII morto na prisão do Temple em 1795, o Delfim, morto em 1789 que mostra um berço vazio onde devia estar representada a Madame Sofia morta na tenra idade antes do acabamento do quadro)

O Quarto da Rainha:



A simetria característica de Versalhes encontrava-se na origem entre o Apartamento da Rainha e o do Rei. Ambos tinham o mesmo número de salas, a decoração dos tetos eram consagrados às mesmas divindades e planetas, e distinguiam-se somente pelos quadros das abóbadas que no Rei representavam figuras masculinas e na Rainha figuras femininas.


É neste quarto que a Rainha dava a luz publicamente aos seus herdeiros do trono. Madame Campan que foi a Primeira Camareira de Maria Antonieta descreve nas suas Memórias o que podiam ser tais partos: “no momento em que o parteiro Vermond diz em voz alta: ‘Arainha vai dar a luz’, as enchentes de curiosos que se precipitaram no quarto foram tão numerosas e tão tumultuosas, que este movimento quase fez perecer a rainha. Dois saboianos subiram sobre os móveis para ver mais à vontade a rainha ...”

Os Trianons e o domínio de Maria Antonieta

A noroeste do palácio, na antiga localização de Trianon comprada por Luís XIV, situam-se os palácios do Grande Trianon e do Pequeno Trianon, construídos respectivamente por ele e por Luís XV para fugir da multidão e da etiqueta rígida do Palácio.  (porém por ser muito grande não consegui visitar essas partes, por isso não tenho fotos dessa parte)


(essa somente para imaginar como poderia ser)

O grande Trianon

Em 1668, Luís XIV comprou uma aldeia que se chamava Trianon que ele reúne ao domínio de Versalhes e que mandou demolir para construir no seu lugar em 1760 um pavilhão adornado com faianças azuis e brancas ao qual se deu o nome de Trianon de Porcelana.

Em 1687, decidiu substituí-lo por um edifício mais vasto, obra de Mansart, que se chamou Trianon de mármore por causa de sua decoração. A partir daí até à queda do Segundo Império em 1870, o Trianon foi sempre habitado, exceto durante o período revolucionário. Mas são, sobretudo, as transformações ordenadas por Napoleão I e Luís Felipe que podem ser vistas ainda hoje nesta moradia totalmente restaurada em 1965 por ordem do General Gaulle.

O pequeno Trianon

As adições ao parque continuaram com o Petit Trianon, o qual foi mandado construir por Luís XV durante a década de 1760 para a sua amante Madame de Pompadour, a qual morreu antes da sua conclusão. Viria, então, a ser usado pela sua sucessora, a Madame du Barry. Quando o jovem Rei Luís XVI subiu ao trono deu-o à sua igualmente jovem esposa, Maria Antonieta, para seu uso exclusivo, que irá dotá-lo de um jardim inglês desenhado por Hubert Robert. Lá revela a vida privada dela, longe da pompa de Versalhes. Ninguém podia entrar lá sem seu convite.

Finalmente, foi construída uma outra estrutura conhecida como o Petit hameau, ou Le Hameau de la Reine ("a aldeia da rainha"), localizado nos jardins do Petit Trianon, o qual consistia na recriação de uma pequena quinta Normanda. O Petit hameau foi construído entre 1783 e 1786, segundo desenhos do arquiteto preferido de Maria Antonieta, Richard Mique. Com casinhas, leitaria e moinho. Nessa época, ela transformou-o numa réplica das vilas camponesas da França, com casinhas simples, vacas e ovelhas. Dizia-se que aqui, a Rainha e os seus serviçais se vestiam como pastores e criadas de leitaria.


(o numero 06 representa o Grande Trianon, a parte dos números 70 em diante representa o Pequeno Trianon e a parte dos 80 representa a Aldeia da Rainha)

Da Revolução aos nossos dias

A Revolução despeja o palácio dos seus móveis, mas poupa o edifício. Todas as pinturas partem para o museu do Louvre e os móveis são vendidos, salvo algumas exceções. O novo regime entendeu a importância histórica e simbólica que o local representa. Após alguns anos de manutenção medíocre, o palácio foi restaurado primeiro por Napoleão I, depois pelos reis Luís XVIII e Carlos X, ambos irmãos de Luís XVI. Mas nenhum ousa estabelecer lá a sede do poder, instalar-se em Versalhes seria uma provocação: significaria demasiado o regresso ao Antigo Regime e aos seus privilégios.

Não sabendo o que fazer com ele, até se pensou em destruí-lo, mas o palácio foi salvo por Luís Felipe. Com um espírito de reconciliação, o “Rei dos Franceses” decide, em 1833, de o transformar em museu dedicado “a todas as glórias da França”. Inauguradas em 1837, as Galerias históricas apresentam um monumental resumo da história da França, desde a fundação do reino até à época contemporânea.


(outro quadro igual a esse encontra-se no Museu do Louvre, como postei na matéria passada)


(Rei Luís XVI)





Várias salas temáticas (de África, de Crimeia, etc.) são previstas mas nem todas serão concluídas devido à queda da monarquia em Julho de 1848. Abre-se então um período de transição para o palácio, e Napoleão III, como no Antigo Regime, utiliza-o para diversas festas e recepções do Segundo Império. A chegada da 3ª República, após a derrota de Sedan contra a Prússia, é caótica e Versalhes apresenta-se a partir de 1870 como o refúgio de um sistema governamental em andamento.

Em Março de 1871, a Ópera real foi adaptada em menos de dez dias pelo arquiteto do domínio e da Assembleia para receber os ministros, as comissões e todos os eleitos. Os parlamentares realizavam ali as suas sessões até Dezembro de 1876, data em que foi concluída a sala do Congresso na ala do Midi, apta a receber em conjunto os senadores e os deputados. São estes que, nesse local, elegem o presidente da República até 1953, desde Patrice de Mac-Mahon até René Coty.



(galeria das Batalhas)







Ao lado do museu de História, desde o começo do século XX, conservadores e arquitetos dedicam-se a restituir e remobilhar os apartamentos reais e principescos que constituem o centro do palácio, enquanto enriquecem as coleções de pinturas e esculturas que ocupam as alas. O palácio atravessa épocas, as ameaças das guerras, colocando convenientemente certas obras sob o abrigo, demonstrando totalmente a sua ancoragem na história da França.





A galeria dos Espelhos recebeu então, durante o primeiro conflito Mundial, os soldados feridos, enquanto em 28 de Julho de 1919 foi lá assinado o tratado de paz que pões termo às honestidades. Estojo dos conhecimentos franceses das Luzes, museu de História, palácio Nacional e agora símbolo da República, Versalhes é igualmente o teatro de inúmeros eventos internacionais: recepções da Rainha Elizabeth da Inglaterra em 1957, do presidente americano Jonh Fitzgerald Kennedy em 1961, da cimeira dos chefes de Estado e de governo dos países mais industrializados (G7) em 1982...



(galeria dos Espelhos)

 

Vanessa Massaneiro