Religião

22.01.2015

Teologia das lágrimas

Um dos discursos mais emocionantes e marcantes que escutei até hoje foi pronunciado na semana passada pelo Papa Francisco a um grupo de estudantes na universidade de São Tomás na cidade de Manila.

O Papa convidou os estudantes a não serem jovens de museu, que só acumulam informações, e sim pessoas sábias, que também saibam chorar, comover-se com o sofrimento alheio, amar e deixar-se amar, ajudar os pobres, doentes e órfãos.

Por atrás desse discurso encontramos uma história muito concreta e real. Glyzelle Palomar, uma menina de apenas 12 anos, com lágrimas nos olhos, contou ao Papa que já dormiu na rua e até teve que buscar comida no lixo. Esta inocente menina fez ao Papa uma das perguntas mais difíceis de responder. Por que Deus permite que as crianças sofram? E por que, diante dessa situação, só algumas pessoas são sensíveis e são capazes de dar uma mão?

As lágrimas da pequena Glyzelle inspiraram ao Papa um discurso maravilhoso que poderíamos chamar “teologia das lágrimas”. O Papa, pessoa tão sensível e humana, deixou de lado o discurso que havia preparado e falou com naturalidade aos jovens. Fazendo referencia à Glyzelle o pontífice disse: “Ela hoje fez a única pergunta que não tem resposta, e as palavras não foram suficientes, então precisou dizê-las com lágrimas”.

Depois disso o Papa acrescentou: “quando nos fizerem a pergunta por que as crianças sofrem, que a nossa resposta seja o silêncio ou as palavras que nascem das lágrimas”. Na verdade, acho que o Papa não podia ter dado melhor resposta. Aproveitando a situação o bispo de Roma fez uma bela reflexão que gostaria de compartilhar com todos vocês. “O mundo de hoje precisa aprender a chorar, chorar pelos marginalizados, pelos abandonados, pelos desprezados [...] os que levam uma vida mais ou menos sem necessidades não sabem chorar”.

Essas palavras do Papa me ajudaram muito na minha meditação pessoal destes últimos dias, me ajudaram tanto que resolvi compartilhar com vocês algumas ideias sobre este tema. Seria interessante que todos nós perguntássemos com muita humildade e simplicidade: meu coração é simples, capaz de compadecer-se dos demais, dos que sofrem, dos que são perseguidos e marginalizados? Ou sou das pessoas “impermeáveis”?[...] Tão indiferente que tudo da igual. Em poucas palavras: sei chorar?

Em minha opinião as lágrimas não são um sinal de fraqueza, mas de muita humildade, simplicidade e compaixão. Realidades tão necessárias no mundo de hoje. Eis a “teologia das lágrimas”!

Boa semana a todos!


Ricardo Pioner, L.C.