Notícias da Região | Santa Helena

Quarta-feira, 17 de Dezembro de 2025

Como Santa Helena, uma pequena cidade do interior do Paraná se tornou um dos maiores pólos de IA aplicada do sul do Brasil

Com R$ 22 milhões em contratos, 250 profissionais e acesso a uma das maiores infraestrutura de inteligência artificial entre universidades da América Latina, o LAMIA já impactou mais de 20 milhões de brasileiros, e agora quer escalar o modelo para todo o país

Santa Helena tem 28 mil habitantes, fica a 600 quilômetros de Curitiba e não aparece em nenhum ranking de ecossistemas de inovação. Mesmo assim, é de lá que sai hoje o maior volume de projetos de inteligência artificial aplicada à indústria de todo o Sul do Brasil, superando instituições tradicionais de capitais do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e do próprio Paraná.

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O responsável é o LAMIA — Laboratório de Aprendizado de Máquina Aplicado à Indústria, vinculado à UTFPR. Fundado em 2019 com um punhado de alunos de Ciência da Computação, o laboratório fecha 2025 com R$22 milhões em 14 contratos ativos, uma equipe de 250 pessoas entre estudantes de graduação/mestrado/doutorado, professores e profissionais de mercado, e tecnologias que já impactaram mais de 20 milhões de brasileiros.

"Quando começamos, a pergunta era se dava para fazer pesquisa de ponta fora das capitais. Hoje a pergunta mudou: como escalamos isso para formar ainda mais gente e gerar mais impacto?", afirma Thiago Naves, professor da UTFPR e fundador do LAMIA.

A fábrica de talentos

O modelo do LAMIA vai além de desenvolver tecnologia, é uma máquina de formar profissionais que o mercado não consegue produzir sozinho. Estudantes são capacitados a dominarem com experiência prática áreas como visão computacional, processamento de linguagem natural e ciência de dados, as três áreas mais demandadas do mercado de IA. Em seguida são alocados em projetos para construir produtos de IA em parceria com empresas recebendo bolsas de estudo que superam a maioria dos programas de pós-graduação do país.

Mas o diferencial não é só financeiro. Empresas de todo o Brasil procura o laboratório não apenas pela expertise técnica, mas para contratar os alunos que foram treinados ali. Quem passa pelo LAMIA já sai integrado ao mercado de trabalho em uma área nova e de futuro como a IA.

"Os alunos trabalham em demandas reais desde o primeiro dia. Quando uma empresa nos procura, ela quer a tecnologia, mas também quer os talentos. Muitos dos nossos alunos são contratados antes mesmo de se formarem", explica Naves.

O resultado é um pipeline que começa na graduação e vai até o doutorado, com profissionais sendo absorvidos por startups, grandes empresas e, cada vez mais, empreendendo a partir do próprio laboratório.

Infraestrutura de primeiro mundo no interior

Para sustentar projetos dessa magnitude, o LAMIA em parceria com o CEIA — Centro de Excelência em Inteligência Artificial da UFG, unidade credenciada pela EMBRAPII, possui acesso a uma das maiores infraestruturas de IA entre universidades da América Latina. São diversos supercomputadores NVIDIA, incluindo DGX-H100 e DGX-B200, máquinas que permitem treinar modelos de linguagem e visão computacional no mesmo nível de centros de pesquisa internacionais.

O caso que virou referência nacional

Em dezembro de 2024, um projeto executado no LAMIA recebeu o Prêmio EMBRAPII de Projeto Mais Inovador do ano, competindo com todas as unidades credenciadas do país — que incluem os principais centros de pesquisa brasileiros.

O projeto, desenvolvido em parceria com a Cilia Tecnologia de Goiânia, utiliza imagens sintéticas para treinar redes neurais que avaliam danos em veículos. A tecnologia hoje é usada por praticamente todas as seguradoras do Brasil, processa mais de 2,8 milhões de orçamentos por ano e já ultrapassou a marca de 10 milhões de orçamentos desde o início da operação.

O impacto no negócio foi direto: em 2023, a Cilia captou R$110 milhões em uma rodada liderada pelo Mercado Livre. A parceria com o LAMIA, iniciada em 2021, já está no quarto ano de contrato.

"A empresa enxerga na universidade sua principal parceira para desenvolvimento de tecnologia de ponta. É uma relação onde todo mundo ganha: a empresa cresce, a universidade produz ciência de impacto e os alunos se qualificam para carreiras de alto nível", diz Naves.

Do Paraná para o Brasil e para o mundo

O impacto do LAMIA não fica restrito ao Paraná. As soluções desenvolvidas no laboratório já alcançaram mais de 20 milhões de brasileiros, em setores que vão de seguros automotivos a educação, de logística a saúde.

O setor da saúde é um dos quais o LAMIA está concentrando esforços para 2026. Em parceria com o CEONC — Hospital do Câncer de Cascavel, e o BIOPARK parque tecnológico referência nacional em inovação, o laboratório está iniciando o desenvolvimento de um copiloto de IA para auxiliar médicos na leitura de exames de mamografia.

A solução utiliza aprendizado federado, técnica que permite treinar modelos em múltiplas instituições sem centralizar dados sensíveis de pacientes. O objetivo é criar uma ferramenta que possa ser usada por médicos em todo o Brasil, democratizando o acesso a diagnósticos de alta precisão em hospitais do país e principalmente do interior onde a demanda de médicos especializados é mais escassa.

"Queremos que o oeste do Paraná seja reconhecido como o maior polo de IA aplicada do Brasil. A parceria com o Biopark é estratégica para isso, juntos temos infraestrutura, conhecimento e escala para fazer acontecer", afirma Naves.

O modelo do LAMIA opera em um ciclo virtuoso: empresas acessam tecnologia de ponta com risco compartilhado, a universidade gera pesquisa aplicada com impacto real, alunos se formam já empregados e o ecossistema regional se fortalece.

Para 2026, o LAMIA já tem uma carteira robusta de novos projetos em estruturação, todos na fronteira da inteligência artificial generativa: plataformas educacionais com IA, modelos de linguagem especializados no sistema jurídico brasileiro e agentes inteligentes para gestão de clientes corporativos.

"Nosso planejamento é continuar crescendo, mas o mais importante é provar que esse modelo funciona e pode ser replicado. Se uma cidade de 28 mil habitantes consegue, imagine o que o Brasil inteiro pode fazer", conclui Naves.

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Thiago Naves, fundador do Lamia, que recebeu o prêmio Inova Oeste 2021 com o Programa Bolsa Lamia e Empresas de Tecnologia. Thiago Naves vencedor do Prêmio Iguassu Valley 2024 como Personalidade Destaque em Inovação no PR