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Quarta-feira, 17 de Dezembro de 2025

Eles estavam prestes a se tornar americanos – até Trump cancelar suas cerimônias de cidadania

Sanam é uma imigrante iraniana que chegou aos Estados Unidos mais de uma década atrás. E, finalmente, ela estava a ponto de se tornar cidadã americana.

Foram anos enfrentando a burocracia, buscando aprovações, testes e verificações de segurança. Tudo até chegar à etapa final: a cerimônia de cidadania.

Mas, faltando apenas dois dias para o seu juramento no dia 3 de dezembro passado, o governo dos Estados Unidos cancelou abruptamente a cerimônia.

Inicialmente, Sanam ficou perplexa e confusa. Não houve nenhuma explicação.

Ela contou à BBC que não conseguia entender por que a cerimônia havia sido cancelada, se ela não havia feito nada de errado.

Só posteriormente, Sanam descobriu que o motivo foi o local onde ela nasceu. Foi quando surgiram a tristeza e a frustração.

"Anos se passaram e me sinto simplesmente esgotada, me perguntando se posso pelo menos continuar este processo, já que foi tão difícil", ela conta. "É absolutamente desolador."
Sanam prefere permanecer anônima, por medo de retaliação. Por isso, ela decidiu se identificar apenas pelo apelido.

Ela mora no Estado americano de Oregon com seu marido, cidadão americano do Kansas. A BBC verificou a identidade dela — e Sanam não é um caso isolado.

No início do mês, o governo Donald Trump começou a cancelar cerimônias de cidadania de imigrantes de 19 países que já estavam submetidos a uma proibição de viagens. O Irã é um deles.

A controversa decisão deixou em estado de incerteza moradores permanentes em situação legal — como Sanam — em estado de incerteza. São pessoas que já passaram por todas as etapas do processo para se tornarem cidadãs americanas e só aguardavam a última formalidade, que é a cerimônia de cidadania.

"Parece simplesmente que nossa vida está meio que em um estado de limbo, instável", declarou Sanam. Ela e seu marido se sentem "à mercê do que o governo decidir", segundo ela.
A experiência fez com que Sanam começasse a reconsiderar se vale a pena permanecer nos Estados Unidos. Ela ainda tem sua família no Irã, incluindo seus pais idosos, e não sabe quando conseguirá vê-los outra vez.

"É difícil pensar em ter esperança neste momento", afirma ela.

"É uma época realmente assustadora e, infelizmente, estamos chegando às festas de final de ano. É muito triste que as pessoas passem por isso, no que deveria ser uma temporada de alegria e reunião com a família."
19 países afetados pela proibição de viagens

O cancelamento das cerimônias de cidadania é apenas uma parte dos esforços mais recentes do governo Trump para restringir as regras de imigração.

Migrantes dos 19 países já submetidos à proibição de viagens tiveram seu processamento de imigração suspenso, independentemente do estágio do processo, não apenas na etapa final.

Esta e outras medidas similares vieram dias depois que um cidadão afegão abriu fogo contra membros da Guarda Nacional em Washington DC, no dia 26 de novembro, matando a oficial Sarah Beckstrom e ferindo seriamente outro soldado.

O governo Trump usou o ataque como justificativa para uma série de novas medidas para restringir a imigração. Elas incluíram o deslocamento de mais 500 soldados da Guarda Nacional para a capital americana, redução do período de validade dos vistos de trabalho de cinco anos para 18 meses e a suspensão de todas as decisões sobre a concessão de asilo.

O Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS, na sigla em inglês) afirmou que as restrições são necessárias para proteger a segurança nacional, as vidas dos americanos e garantir a segurança pública.

Mas Mario Bruzzone, vice-presidente de políticas da Coalizão para a Imigração de Nova York (uma organização sem fins lucrativos que representa centenas de grupos de direitos dos imigrantes nos Estados Unidos), declarou que as restrições colocam os imigrantes que precisam de proteção em situações perigosas.

G1