Internacionais | Caso Epstein

Quarta-feira, 24 de Dezembro de 2025

Umas 50 brasileiras estiveram na mansão de Epstein, diz vítima do bilionário à BBC

ATENÇÃO: Esse texto traz relatos de violência sexual.

Marina Lacerda veio a público em setembro deste ano para relatar ter sido vítima de violência sexual por Jeffrey Epstein. Agora, em entrevista à BBC News Brasil, ela conta que muitas outras brasileiras como ela teriam estado na mansão do bilionário e que teriam sido abusadas por ele.

"Pelo menos umas 50 brasileiras, eu acho. Eu levei algumas dessas meninas, e elas levaram outras meninas", diz Marina.
Epstein morreu em uma cela de prisão em Nova York em agosto de 2019, enquanto aguardava, sem possibilidade de fiança, seu julgamento por acusações de tráfico sexual, mais de uma década após sua condenação por contratar serviços de prostituição de uma menor de idade, pelo qual ficou registrado como agressor sexual.

Na época dos abusos, Lacerda conta que morava em Astoria, bairro do distrito de Queens, em Nova York, conhecido por ter uma grande comunidade de brasileiros.

A BBC News Brasil revelou o elo do caso de Epstein com o Brasil a partir de um documento divulgado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, tornado público na última semana, o qual falava em um "grande grupo brasileiro", mas os nomes e detalhes que poderiam dar maior contexto das informações estão tarjados.

Marina é de Belo Horizonte (MG) e conta que foi para os Estados Unidos quando tinha 8 anos, para acompanhar a mãe. Ela diz que, ainda adolescente, trabalhou em vários empregos diferentes, mas que o dinheiro não era suficiente para se sustentar. "Eu era imigrante e menor de idade", afirma.

Foi aí que ela descobriu um grupo de jovens, vinculado a uma igreja em Astoria, com outras brasileiras. Até que uma delas chegou com um convite.

"Essa menina falou: sei que você está passando uma dificuldade imensa na sua casa e queria te ajudar. Tem um cara super-rico, poderoso, que mora em Manhattan, e gosta de pegar massagem de menina nova."
Ela conta que já tinha trabalhado temporariamente como recepcionista em um spa em Koreatown, um bairro de Manhattan, e que teria aprendido o básico sobre como fazer uma massagem. "É claro que eu não tinha formação, né? Mas falei para essa amiga que sabia fazer."

A amiga então a alertou: "Você tem que usar um biquíni por baixo, porque ele gosta de menina que faz massagem com biquíni, de sutiã".

'Você nunca fez 300 dólares em 40 minutos'

Marina conta à BBC News Brasil que achou o convite da amiga muito estranho, mas decidiu ir mesmo assim. Ela tinha 14 anos.

Quando chegou ao local, viu que as coisas seriam muito diferentes do que a colega contou. "Eu estava muito nervosa e ansiosa, mas essa amiga disse que ele era super gente boa", diz.

"Uma empregada me pegou, pegou essa amiga, colocou num elevador, e fomos até o terceiro andar. Então, abriu uma porta, com um corredor. Andamos até um quarto de massagem com tudo escuro. A janela estava tampada."

Epstein então teria se apresentado pela primeira vez. "Ele perguntou de onde eu era, quantos anos eu tinha, se eu ia para a escola."

Marina relata que Epstein passava boa parte do tempo ao telefone e dava a impressão de estar falando com pessoas importantes. Segundo ela, ao encerrar uma das ligações, ele se virou e começou a tocá-la.

Ela afirma que pediram para que tirasse a blusa. Diz que Epstein, tentando se mostrar gentil, quis tocá-la. "Eu falei: 'não'. Eu disse que não me sentia confortável."
Em seguida, conta que percebeu uma mudança no clima. A jovem que estava com ela teria reagido com irritação. "Ela me olhou com raiva. Eu achei que aquilo não fazia parte", relata.

Segundo Marina, Epstein então tentou minimizar a situação. "Ele disse: 'dá um tempo que ela vai se sentir confortável comigo'. Nisso, eu troquei de lugar com minha amiga, e ele começou a tocar nela."

Ela diz que a postura de Epstein mudou com a colega brasileira. "Ele foi super agressivo."

Marina afirma que a situação se intensificou rapidamente e que ficou em choque. "Foi uma coisa muito intensa. Não sabia que isso ia acontecer."
Quando Epstein terminou, elas se vestiram, receberam o dinheiro e saíram. "Ele disse que me veria de novo. Eu fiquei calada, pensando que nunca mais veria esse cara."

Quando saíram, Marina diz ter reclamado com a amiga da situação. Essa colega rebateu: "Você nunca ganhou 300 dólares em 40 minutos".

"Discutimos, ela jogou o dinheiro na minha cara e falou para eu parar de reclamar, que eu precisava desse dinheiro e que ia me ajudar muito."

Ela conta que a amiga a convenceu, e ela voltou ao local outras vezes. "Você mora em Astoria, é imigrante, não conhece ninguém. Esse cara vai te ajudar."

G1